Talvez o cego seja eu

Depoimento de Andrea Tonacci sobre Bang Bang para o filme O CEGO

Em 2005, estávamos finalizando o filme Isso é Teatro dirigido por Alexandre Pimenta, sobre a vida do ator mineiro Ezequias Marques que nos anos 70 havia interpretado o personagem do cego no clássico do cinema marginal Bang Bang, dirigido por Andrea Tonacci. Tivemos então a oportunidade de estar com o diretor e entrevistá-lo para o filme. Desse encontro, de forma singela foi surgindo o documentário 'O cego'. Era preciso dividir com todos a excepcional narrativa da construção de algumas cenas, desmistificando uma visão do filme como algo cheio de armadilhas para críticos. Com humor, Tonacci descreveu sua forma tateante de dirigir, em uma Belo Horizonte pouco afeita ao imaginário cinematográfico. Alex e eu ouvíamos a história e nos perguntávamos surpresos - então, podia-se fazer um roteirinho e modificá-lo todo dia? A forma podia intervir no conteúdo de modo a subvertê-lo? Fiquei feliz ao ver explicitado o Tonacci diretor consoante com seus personagens anárquicos, dirigindo como quem atua, e aí nasceu de fato O cego – do desejo de inseri-lo no filme como um quinto elemento. Tonacci gostou da idéia, cedeu as cenas e respondeu enigmático que já estava lá, de barba, cabelo e bigode . Assim, ele começou a falar de coisas que não estão no filme, mas que estavam antes do filme ser feito, no roteiro : "A historinha [veio a partir] de um conto policial, desses populares – um pocket book que vendia em jornaleiro, e que tinha como um dos personagens um bandido com características chaplinianas, era um cara que virava e dava uns pulinhos…’ .. continua no filme